segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A linguagem é uma bóia

quem sabe o segredo é não nos prendermos ao conceito inerte, morto. O que quero dizer com isso? irei me apropriar de idéias alheias para poder explicar. uma folha. O que é uma folha? Parte constitutiva das árvores em geral, responsável pelo metabolismo das mesmas etc. Mas só quando assim o digo é que sou humano dotado de linguagem, razão e mediocridade. Mas a folha não pode(deve) ser classificada. Uma folha é um universo particular e inacessível e misterioso. Mas a idade e a depressão e até deus nos tiraram a capacidade de um olhar inocente sobre todas as coisas. Por isso não há mais risos. Amor e sexo são objetos de estudos, estatísticas, parâmetros, conclusões, manuais.Mediocridades. Minha revolta nasce da previsibilidade doentia dos signos. olho uma fila de zumbis e é para lá que devo ir e esperar até a minha vez. O carro foi feito para andar. O ser humano deve dormir pelo menos oito horas por dia. Uma alimentação saudável é fundamental, além de atividades físicas regulares. A felicidade se baseia em um bom emprego e em uma família feliz. Tomo vinhos francêses mas fico triste ao ver um esfomeado qualquer da África. Mudo de canal. Será que me faço compreender? fui claro? por hoje basta.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ele só percebeu sua morte quando o doce veneno o havia penetrado

alô, quem fala?
- não ta reconhecendo a voz? É o Silvio.
-a sim, mas não está muito cedo para essa ligação?
-já são dez e meia, Claudio.
-pode ser. Pode falar.
- rapaz, você está com meu livro? Aquele que eu te emprestei?
-não peguei nada com você.
-tem certeza?
-absoluta.
-e fora isso? Como andam as coisas? Terminou seu livro? Aquele romance?
-continuo morando no apartamento para os fundos do edifício inferno bloco a.
-sei. Sei. Mas em relação ao seu trabalho?

-o livro ainda não saiu, na verdade ainda não terminei. Mas estou escrevendo uns contos para uma revista pornográfica, está sendo uma experiência interessante. São contos pobres de literatura, não há espaço para divagações, personagens complexos, ou algo do tipo. Você tem que bolar uma cena com uma boa dose de sexo, sem muita firula , sem rodeios. Os leitores tem uma faixa de quinze anos de idade. Então não é tão difícil excitá-los. Mas, agora, uma pergunta oportuna. Tem oito meses que não te vejo. Não entendi o motivo de sua ligação. Então acho que deva ter um assunto mais urgente para tratarmos.

-Sabe o que é, Claudio, Preciso de uma ajuda sua. Com toda essa experiência de vida, você certamente pode me dar uma saída para uns problemas nos quais me envolvi.
-hum.. pode falar.
-é o seguinte. Lembra da Paula né.
-como poderia esquecer-me de sua ex namorada?

-pois é. Aqui é que mora o problema. Ela não é bem minha ex namorada. Há algumas semanas nós temos nos encontado. E você, mais do que ninguém, conhece a Paula. Eu sei que você a conhece a fundo. Toda aquela exuberância. Aquele olhar, seu cabelo, sua crueldade, sua sensualidade infernal. Saímos umas três vezes nesse meio tempo. E aquela mesma estória se repetiu. Eu e ela, quando nos encontramos, temos lá nossas afinidades. A Paula, essa neurótica, acho que foi a única mulher capaz de me acompanhar decentemente em uma bebedeira. Nem mesmo você, Cláudio, pôde me completar tão perfeitamente no quesito esvaziar garrafas. E há ainda um fator agravante, um pensamento que está me tirando o sono. Uma catástrofe, uma miséria existencial pouco a pouco me assola; a idéia de que toda a minha vida tem sido dedicada ao pensamento sobre essa mulher. Mesmo quando estávamos separados,nada me tirava da mente o sexo dessa mulher, sua intensidade, sua loucura, seus maços de cigarros odiáveis por toda a casa. Sou tentado a admitir que estou começando a amar essa mulher..

- Silvio, eu não acredito no que acabo de ouvir. Você sabe que horas eu fui dormir? O que deu em você, seu puto? Por acaso me acha com cara de psicólogo? Está se sentindo sozinho? Por que não liga para sua mãe? Ela te ama mais do que eu, pode acreditar.. agora , no que diz respeito ao seu amor e o dela, Essas suas histórias poderiam me render uns contos ou até mesmo um livro. Você é um porra louca indefinido. Meio intelectual, meio músico, boa vida, contrabandista, viciado e pé no chão. Não te entendo nem quero entender. Mas a Paula é uma mulher fenomenal, extremamente bela, perigosa, não serviu para mim. Confesso-te que essas mulheres belas em demasia, com personalidade envolvente, me causam medo, me sinto inseguro. Não sei. Nunca vi a Paula taciturna ou vacilante. Sempre transbordante. Sempre com um sorriso no rosto ou prestes conquistar alguém. Aquela tarada. Mas enfim, não estou muito bem para conversas, espero que me compreenda e que me ligue outra hora.

-Calma ai cara, não é assim. Não te liguei apenas para conversar, espero sua ajuda. Desesperadamente. Vou resumir. Sábado. Ressaca. Acordo quatro horas da tarde em meu apartamento fétido e deslumbrante. Olho para o lado e resolvo colocar alguma coisa no estômago. Olho meu celular. Quatro ligações perdidas da Paula. Esse telefonema me deixa confuso, meu estômago é sensitivo, diante de situações como essas, sinto náuseas, nesse sábado cheguei a vomitar. Ligo para ela. Sua voz estava doce como chocolate derretido. Ela falava baixo e escorregadiamente. Não me contive. Saímos. Fomos a um motel, duas garrafas de vodka e um pacote razoável de cocaína. Tudo rolou muito bem até eu encher a cara dela de porrada.

-Silvio, eu conheço vocês dois, nada do que foi dito me surpreende. Dois anos de convivência me ensinaram alguma coisa a respeito do que vocês são capazes.

-Claudinho, meu caro, parece que não me compreende. Dessa vez foi diferente. A coisa pegou fogo, saiu de nosso controle. Começou com uma dose de violência durante o sexo. Nos desentendemos quando começamos a conversar. Você sabe como é, o ciúme é um veneno suave. Às vezes parece que se camufla e se esconde , mas ele pode causar as piores sensações possíveis ao ser humano. Ela começou com uma estorinha de que me amava e coisa e tal, mas que estava envolvida com um determinado camarada assim e assado. Não agüentei, a conversa começava a fluir, mas não pude conter minha ira. Meu ímpeto. Eu sou um guerreiro. Sou um homem do mar. Minha linhagem pertence aos piratas. E Blá. Blá. Blá.

-seja breve, não tenho tempo.

-Resultado. Ela está internada. Eu olhei aquele rosto lindo dizendo que estava gozando como louca com esse tal camarada. E ela ainda fazia, com a língua, todos os movimentos salientes, todas as entrâncias de seus movimentos dissimulados. Olhei aqueles olhos verdes e os esmurrei até que o sangue brotasse ainda vivo, vermelho, quase brilhante. Agora a polícia está atrás de mim, ela desenvolveu um quadro de traumatismo craniano. Não sei a gravidade de seu estado, mas temo pela vida dela e pela minha.

-você se meteu em um grande problema. Aquela filha da puta. Olha só o que ela te obrigou a fazer. Estou preocupado. Agora não mais se trata de uma brincadeira. A policia está envolvida. Ela pode morrer. Todos os planos de suas vidas estão seriamente arruinados, pelo menos por enquanto, até que ela caia na real e te perdoe ou ela morra mesmo. Mantenha a calma, meu amigo, a situação requer frieza. Sou seu amigo, há muitos anos, mas não podemos deixar de considerar o lado perverso dessa história. O lado maldito. A parte autoritária. Mesquinha. A parte louca, a coisa que aconteceu de forma errada. Esse fato não pode deixar de ser considerado em nossa reflexão. A humanidade, de uma forma geral, sofreu com esse sábado fatídico nesse motel de quinta categoria. As crianças quando choram, choram por medo premeditado de coisas como estas. Deus, caso existisse, estaria em sua poltrona celestial jogando dominó. Haha. Desculpe-me, não contive o riso. Você precisa se esconder, eu te darei abrigo, vamos para minha pequena casa no interior,vamos ficar lá por uns dias, até que essa estória esfrie. Ou ela te perdoe e retire a queixa. Vamos logo. Pode deixar que eu levo a bebida e os discos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

assim falou riobaldo

nada não é preciso
viver é deixar estar
a felicidade não carece de procura
felicidade é uma lua vermelha
que aparece e volta a se esconder
entre nuvens
a beleza está nos olhos de quem ri
poesia é só uma frustração
de quem não sabe cantar!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

entrevista com friedrich Nietzsche, parte 1.

-Como o senhor se define?
-"Não sou um ser humano, sou um dinamite. Tenho medo que me declarem santo algum dia".
-Qual foi sua formação acadêmica?
- "Prefiro deitar-me sobre o couro do boi do que em seus títulos e respeitabilidades".
-O que o senhor acha dos homens, da humanidade?
- "Os homens não são iguais e nem devem ser".
-Mais alguma coisa? algo a acrescentar?
- "O homem é uma ponte estendida entre o macaco e o super-homem. o que eu amo no homem é ele ser ponte, transição e não uma meta".
- E aos soldados? alguma recomendação?
- "Que não seja UNIFORME o que trazes dentro de ti".
-Já se casou alguma vez?
-Não.
-mas tem alguma palavra para as mulheres?
- "Tudo na mulher é enigma. e tudo, na mulher, tem uma solução: garvidez."
-isso tá ficando interessante. diga mais alguma coisa.
-"O homem, para a mulher, é sempre meio, o fim é sempre o filho".
-Existe alguma solução para a situação das mulheres na sociedade?
-" Que a vossa honra seja amar mais do que sois amada e nisso nunca ficar para trás".
-uma última palavra sobre o sexo frágil?
-"Se vai ter com mulheres, não esqueça o chicote!"
-qual foi a pior desgraça da humanidade até hoje?
-" o cristianismo"
-Por que?
-" o cristianismo necessita de doença na mesma proporção em que o helenismo necessita de excesso de saúde.
-Estou confuso com suas respostas, mas os leitores querem saber sua opinião sobre a crise do dollar,a gripe suína e sobre o tsunami.
-"é preciso ter um caos dentro de si para dar a luz uma estrela dançante".

terça-feira, 29 de setembro de 2009

casamento perfeito n 4

ele era o don juan de sua cidade
ela preservava sua virgindade
e sonhava viver um grande amor
após um ano de casados
ele finalmente conhece o amor
e faz sérias juras de fidelidade
ela, apesar de tudo,
tornou-se lésbica.

casamento perfeito n 3

ela definitivamente não me amava
nem eu a amava
mas é que estava cansada de sofrer
por um amor perdido.
resolveu esquecê-lo comigo.
eu, lamentando meu infortunio amoroso,
aprovei a idéia.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

casamento perfeito n. 2

ele era lindo
apesar de alcoolatra e porra louca
ela, uma psicóloga notável, inteligente, porém feia
casaram-se
ele largou a bebida
e ela gozou como nunca.

domingo, 20 de setembro de 2009

casamento perfeito n 1.

ela vivia em guerra com a balança.
até que conseguiu fazer uma dieta
e perdera bons quilos
casou-se com um chapeiro
se tornou vegetariana
mas o sexo tinha cheiro de bacon.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sobre a liberdade, o verde e pés descalços

ela, com o cigarro na mão ainda aceso,
arrastou a brasa em cima dos pêlos da perna dele
ele, com um certo receio,
fechou os olhos e ouviu os estalos
de seus pobres pêlos a se contorcerem.
ela, agora surpresa, tragou fundo e perguntou
se ele confiava nela.
ele, aliviado, permaneceu com os olhos fechados
e nada disse.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

carta ao filho.

Fim de tarde. Morar perto do mar tem suas melancolias. A maresia doce melando nossa pele. Não tenho do que reclamar, a lembrança de tempos juvenis me emociona. Chego a escorrer uma lágrima ingrata. Depois de velho. Velhice chega com revelações, pouco a pouco o mistério é desvelado. Você é jovem. Sonha tanta coisa. Acha que precisa viver um grande amor. Viajar. Conhecer. Pura bobagem. Toda terra é igual. Todas as línguas são a mesma. Deus não tem significado em nenhuma delas. Para que pensar, escrever poesia? Tudo é tão inútil. Melhor é ouvir um piano. Uma voz de um cara cego que canta como se soubesse de algo a mais. Você conhecerá pessoas extraordinárias, não tenha duvidas. Caso não fique trancafiado em seu mundinho, achando que não há nada pelo que lutar. Ainda há chance, nem tudo está perdido. Leve seu sonho para onde fores. Não tenha medo. Todo sonho é ridículo, mas ele é seu. E é único. Vão te criticar. Mas não deixe a preguiça te abater. Levante. Rápido. Agora. Não há muito tempo. Você é jovem, mas não é para sempre. Seja feliz. Divirta-se, mas cuidado: sempre haverá alguém para condenar sua felicidade. Pois todos temos que ser tristes, como burros de cargas, como cães malditos. Fique longe de todas as igrejas, meu filho, vá para as montanhas, lá você poderá aprender mais sobre você mesmo, sobre a natureza e o canto dos pássaros. Seja original. Seja sincero. Caso se apaixone, diga sempre ao ouvido ou aos berros. Não deixe um amor morrer no esquecimento do não falar. Diga sempre, custe o que custar

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

meu impaciente amor jorra em torrentes

Em meio ao doce e envolvente vapor da canabis. Com a mente explosiva de pensamentos diversos. Com o coração pulsante, a revolta que trinca os dentes. E quão prazeroso é a guerra, o conflito, a morte a destruição. O suicídio, o incesto, o estupro, a aniquilação são, em última medida, os assuntos mais interessantes. A vida não cabe em um parágrafo. Um encontro, duas almas que se entendem, essas coisas não podem ser expressas facilmente. Que Dionísio me abençoe e que possa trazer às minhas breves linhas uma dose que seja de sua luz transfiguradora. Que tire o peso da individuação e me tranqüilize com a leveza do uno. A sabedoria do uno. O gozo. O êxtase. O perder-se. Ao vinho! Ao vinho! Bebamos logo essa garrafa preenchida pelas lágrimas púrpuras de satanás. O veneno mais suave e sensual.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

sobre a vida, noites e luares

felicidade é segredo
e a questão é que nunca foram
desvelados os segredos
essa é a ferida, a célula corrompida
não há caminho a seguir
nem condutores confiáveis
não há deus. não há deuses.
a ponte é cruzada pela noite
o percurso é feito sozinho
quando se chegar, enfim
(se é que se chega)
ninguém estará a esperar
não haverá festas ou funerais
se chega e ponto.
se é que se chega.

sobre o amor, seu perfume e outras drogas.

o que te inspira?
quais são as cores?
em sua hora mais solitária
quando apenas melodias doces te acompanham
sem máscaras, sem aplausos e sem vaias
a vida quando é filtrada e o que resta é ela mesma
conte-me, meu amigo
o que te alimenta?
qual é a bebida para sua sede?
qual é sua sede?
quanto custa sua sanidade?
quero saber de tudo
não olhe para trás
precisava te contar.

sábado, 15 de agosto de 2009

apartamento 201, bloco A, vista para os fundos

dei-me um trago de morfina
para recordar de tantos mundos
nunca vistos
enquanto o beijo áspero da agulha
penetra minha carne trêmula
espero enterrar velhas esperanças
amar as mais alvas prostitutas
nesse momento, quase nada posso fazer
estou caído no chão
o cinto que uso como torniquete
deixa escapar um fio de sangue
estou só e incapaz
se hoje for meu dia
nem forças terei para chegar ao telefone
agora lembranças doces
povoam minha embriaguez
um cheiro de dama-da-noite
inunda meu apartamento
meu fétido e decadente apartamento
no auge de minha insensatez
penso em um grande amor que tive
não tinha hora melhor para lembrar disso?
todo mundo teve um grande amor.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

cinco dias e seis noites

Ao te ver assim deitada, com olhos famintos, incansáveis. Com o cabelo ainda meio úmido pelo suor, suas mãos trêmulas procurando algo ao qual se agarrar. A respiração forte de quem se recupera do orgasmo, olho-te assim e ao ver-te desse jeito tenho calafrios. E não há poesia nem metafísica que seja capaz de me embriagar mais do que seus lábios inda roxos pelo vinho com um doce sabor de conhaque. Mesmo que já tenha chegado ao orgasmo, hoje não cansarei de te satisfazer.sou tentado a me cortar para que com meu sangue morno possas se banhar em um ritual de volúpia e devassidão. Hoje, essa noite, nada mais importa e o mundo todo se resume em seus gemidos. E,cada vez que os ouço, certeza tenho de que é aqui que eu quero ficar e para isso que eu vim. Hoje você é minha. Sem pressa. Na leveza e lentidão de seus suspiros. Até o primeiro raio da manhã estuprar a densa noite. presa em meus braços hoje você é minha. Sem escolha e sem saída. dominada pelo sexo violento, entre dores, arranhões e sangue te mostrarei um pedaço de nosso paraíso. De nosso paraíso artificial. e depois? que se foda o depois. depois conversaremos um pouco enquanto fumo meu último cigarro.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

faltam-me palavras para descrever o desencanto
a humanidade é uma taça de vinho coalhada
o amor é um álbum de fotografias perdido
seus lábios são como narcótico comum
preciso de solidão e anonimato.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

para aquela que tem a primavera no sorriso

no fluxo dos sentimentos
o amor é como o mar
influenciado pelos ventos
morre e nasce todo momento

se quando acaba, traz consigo
dor,lágrimas e solidão
se redime e nos inspira gratidão
quando um novo amor traz abrigo

que o desejo nunca é satisfeito
que a essência do outro é inacessível
que prova-lo sem dor é impossível
que o amor sempre se mostra imperfeito

todos já sabemos
com lógica, razão e pessimismo
e remédio para o amor é que amemos
cada gota, por inteiro, à beira do abismo.

domingo, 31 de maio de 2009

furo de reportagem( ainda sem revisão)

Acordo às nove e trinta e oito de uma manhosa manhã de março. O céu está nublado, pelo menos assim me parece quando o percebo através da luz do sol entre a fresta da cortina. A noite foi longa, fui submetido a sonhos apavorantes, intermináveis. Sonhos confusos, delírios que só provam a incapacidade humana, estava imerso em uma realidade sobre a qual pouco ou nada sabia; era perseguido por pessoas e coisas mais fortes do que eu. Todo o meu esforço para escapar desses tormentos se mostrava inútil. Enfim acordo e, aparentemente, as coisas melhoram. Ainda estou deitado e olho para o chão. Três garrafas de cerveja vazias e uma pela metade me fazem pensar na noite anterior. Eu, Claudio Rodriguez, me encontro confuso nesse momento. Tenho dado meu sangue para satisfazer as exigências do jornal onde trabalho, mas não consigo dar conta de todas as tarefas incumbidas à mim. O jornal não é grande, vive da boa vontade de alguns anunciantes e do sangue de gente como eu. Sou responsável pela parte policial, entretanto, na prática, ajudo em alguns eventos culturais, ora e outra comento um filme ou livro e também procuro alguns poetas desconhecidos para serem publicados. Mas a uma semana não vou à redação, inventei uma licença médica que poderá custar meu emprego caso eu não apresente um atestado até o fim da semana. Talvez fosse necessário essa minha saída parcial do trabalho, da sociedade, da vida. Moro sozinho, tirei meu telefone do gancho. Parece que, de modo dramático, minha inspiração foi por água a baixo. Sento em frente ao computador e não consigo escrever uma linha que seja. Bebi demais esses dias, fumei igual desesperado. Penso nas coisas que me aconteceram durante a vida, qualquer coisa, um amor mal resolvido, uma cidade visitada anos atrás. Nada parece me render algum assunto publicável, nem uma crônica ou alguns rabiscos, uma resenha. Tento ler algum livro que possa me desviar de mim mesmo e dos pensamentos relacionados ao trabalho. Não funciona. Avanço poucas páginas e um sentimento de aversão contra tudo o que é novo e alheio me toma por completo. Lembro-me de quando decidi estudar jornalismo, foi uma decisão passional, juvenil, sem sentindo algum, até idealista, eu diria. Queria, através das palavras, impor toda a minha revolta contra o que estivesse errado, o que eu julgava não ser a melhor forma de se agir. O tempo passou e as dúvidas foram mais freqüentes do que as certezas, toda a ilusão de um mundo melhor, a projeção maniqueísta de uma sociedade mais digna, justa, se tronaram, para mim, cada vez mais, inverossímeis. Uma vez com a boca no trombone, o que falar então? Saberia eu dizer de que o mundo ou as pessoas precisavam?bastava falar da prostituição infantil? Do tráfico de drogas? Estaria eu sendo original dessa forma? Nesse aspecto, estaria sendo efetivo e pragmático e eficiente? Para mim agora o jornalismo teria que ser tudo menos pragmatismo e manual de instruções para um mundo melhor, se eu pudesse escolher, se eu pudesse decidir como iria executar meu trabalho, optaria por algo ameno, faria uma matéria que não falasse de um fato cotidiano, de um escândalo ou de um assassinato ou de um suicídio. Meu sonho era falar sobre “o” fato, falar de um instante e conseguir, não através das palavras, mas de outro modo, fotografar um instante iluminado. Poético. E que isso fosse jornalismo, e que as pessoas falassem sobre isso nas ruas. Dia desses ouvi dizer que um tiro vale mais do que mil palavras e quase me convenci disso. Quase. Pois, como bom(?) jornalista, ainda acredito nas palavras.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

conto incompleto

Aproximo-me do balcão da cantina da marlucy. O lugar fica afastado dos bairros nobres e dos grandes edifícios. A maioria das pessoas que vivem aqui são trabalhadores de indústrias, da construção civil, de cargos públicos medíocres, como alguns secretários de gabinetes de assuntos sem importância, ou mesmo trabalham miseravelmente como cobradores de ônibus e garis. As mulheres, quando não são putas, são domésticas. Moro aqui a aproximadamente um ano. Consegui alugar um quarto por um preço razoável e me dedico aos estudos e à arte nesse quartinho fétido e obscuro. Confesso que me sinto um pouco alheio a esse ambiente, entretanto, com o passar dos meses, me acostumei bem. Nesse bairro as pessoas falam alto, gritam umas com as outras pela rua, brigam, xingam, ou seja, vivem da forma mais natural possível. Essa intensidade me agradou bastante, nada daquele silêncio de bairros da classe média, de ruas simétricas e árvores podadas. Até a religiosidade se manifesta de uma forma mais criativa. Apesar da predominância do cristianismo católico e de outra praga que se alastra com insuportável rapidez, as igrejas pentecostais, mesmo assim, o povo ainda guarda uma lembrança dos orixás, dos pais de santos, das oferendas, dos artefatos do candomblé, que, para mim, apesar de ser ateu, considero essa manifestação com influências de tribos africanas como sendo mil vezes mais rica e interessante do que a morbidez do cristianismo sem o elemento do sincretismo. Descrições a parte, instalei-me aqui por necessidade, também, de certa forma. O que importa é que hoje é sexta feira. A rua está movimentadíssima, crianças peladas pelas ruas, cachorro quente, churrasco de gato soltando no ar um aroma espetacular, umas mulatas dançando e rindo e fumando maconha. Tudo na santa paz. Compro uma cerveja, olho o movimento da rua, sinto a brisa que vem do mar carregada de maresia desmanchar os vestidos das mulheres. Tudo parece calmo até a chegada de Odette no bar da Marlu. Odette chega e me vê, hesita em vir ter comigo, cumprimenta umas amigas, fala com a dona do bar e até meche com o papagaio de estimação da mesma. Mas ,depois de cinco minutos no mesmo lugar que eu, não se controla e vem falar comigo. Vem com seu mesmo jeito de sempre. Meio hesitante, olhando para varias direções, mas com uma péssima capacidade de dissimular o próprio tesão, embora muito desejasse isso, talvez.
-odette, como vai?
-tudo bem, Claudio Rodriguez.
-pode me chamar de Claudio, apenas.
-entendo, sem formalismos..
- e então, Claudinho, e a respeito daquela assunto de que tratamos?
- olha, mulher, não vá achando que eu não quero me mudar com você..
-sei...sei..
- é que meus quadros ainda sofrem resistência por parte da prefeitura e órgãos públicos, mas, ainda sim, tenho esperança de que no final do mês eles, esses putos, vão colocar minha exposição em algum lugar.
-você é um burro mesmo, por que não trabalha em alguma coisa mais normal, ou entra pro tráfico então.
-colé mulé! Ta me achando com cara de um garoto que pode arriscar tudo, pra mim isso é muito baixo, eu tenho pretensões que não se limitam a essa vidinha de merda que agente leva. Ainda, algum dia, as pessoas darão valor ao meu trabalho, poderei te levar, ou quem quer que esteja comigo, para conhecer lugares históricos, poderia, talvez, nos tirar desse buraco. Você,tão bela do jeito que é, poderia me dar filhos lindos, com essa sua morenidão, esse vermelho, esse lábio, esse cheiro, um dia você tomará uísque enquanto eu me divirto jogando poker e fumando charuto, nossos filhos correndo pelo quintal, natal, essas coisinhas, essas besteiras, reunião de pais e essas coisas.
- Claudio, se você me diz essas coisas para me comer hoje, acho bom você economizar sua verborréia, pois vou te dar de qualquer jeito, estou com um tesão incontrolável, estou nervosa, ansiosa, doida para ser jogada na cama com violência, ser despida com rapidez e ter um orgasmo demorado com sua língua pervertida. Além do mais, não tente se enganar, aposto que não agüentaria a vida de casado por dois meses, eu te conheço, Claudinho, seu negócio é essa liberdade escrota que você cultiva, e essa solidão da qual não abre mão. Para mim, você morrerá jovem e sem ninguém com quem contar. SEU NEORÓTICO.
-parte do que diz é verdade, tenho que admitir, mas a liberdade, quando amarga, nem sempre é agradável. O que importa é que eu estou num dos momentos mais criativos de minha vida, sinto um impulso imenso por criar as coisas, estou tão feliz com isso que é até difícil te explicar direito. Estou me sentindo potente. Parece que uma força sobre-humana me domina, agora quase não consigo dormir de tanto pensar nas coisas e inventar concepções artísticas para meu trabalho.
-esqueça o uísque e o charuto,honney, lá em casa eu tenho um garrafão de cinco litros de vinho que agente pode beber durante essa noite, enquanto ouvimos uns daqueles seus cd s.
-então é isso. Marlucy, quanto deu aí?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

angústias do artista número dois

Não resta dúvida de que perdi a esperança na humanidade. As pessoas são patéticas, superficiais, egoístas e maldosas. Eu também sou assim, talvez eu seja o mais cruel, egoísta, patético e desinteressante entre os seres humanos. Deus morreu e quem cuidará de nós? Quem ou o que dará sentido à vida? Seria necessário que tivesse sentido? A vida é extravagante e intensa e ás vezes tenho medo. Me apequeno pois tenho medo, penso no futuro e tenho dúvidas sobre o que fazer. Vivi experiências que deixaram marcas boas e ruins, espero esquecer das coisas desagradáveis em que me envolvi. A realidade se me apresenta caótica, meus sentidos parecem que esqueceram de organizar e padronizar as percepções. Vejo duas pessoas passarem na rua e não consigo afirmar que são dois seres humanos dotados de racionalidade de tal e tal gênero e com tais e quais características, mas não, para mim, são como dois universos absolutamente diferentes entre si. Deus morreu e até me sinto aliviado com isso. Nesse momento estou em frente à um computador e escrevo insânias, escuto Beatles e bebo uma vodka ordinária e o mundo inteiro é essa musica, esse destilado e essa solidão. Essa falta de sentido me deixa confuso, receoso e ao mesmo tempo me deixa descarregado de certas obrigações metafísicas, meus ombros, agora, parecem leves e eu flutuo com minha despreocupação. Posso seguir e viver o resto de minha vida buscando sempre o que me dá prazer e nessa busca ter certeza de que com ela cavarei minha própria cova. Não me resta mais saída, é domingo e o domingo tem esse ar depressivo por excelência, o vazio das ruas, o descanso melancólico dos trabalhadores. Estou desesperado e parece que vou explodir, uma sede inesgotável me acomete, uma sede que nenhuma bebida pode saciar, uma vontade irracional de viver e experenciar fatos e coisas e pessoas e lugares, quero nunca mais dormir, nunca mais enfrentar uma fila que seja ou preencher relatórios de reuniões inacabadas. Quero correr pelo campo até o esgotamento, quero conhecer todas as pessoas, abraçar, amar, procurar, ser achado. Parece que tenho um explosivo em meu peito, minha vida só terá sentido se eu conseguir expressar de alguma forma essa minha revolta, esse desencanto, essa dor, essa raiva, essa alegria que me acomete agora e em todos os momentos de minha vida monótona e conturbada, calma e revoltada. Talvez por isso escrevo esse texto, na tentativa absurda de, com ele, me afirmar enquanto sujeito imerso no mundo, dotado de linguagem, razão e desespero. Que fosse uma música; se eu fosse pintor, desenharia o semblante da mulher que eu amo com tintas bem coloridas, com entonações psicodélicas. Não me importa o que as pessoas vão achar, não me preocupo com o pensamento alheio quando escrevo, estou pouco me fudendo para elogios e críticas, apenas faço o que devo fazer, o que preciso fazer, escrever e esperar que, com isso, possa embriagar minha ânsia e vê-la escorrendo como um rio de águas claras. Espero que esse texto me faça sorrir depois de ter chorado antes de escrevê-lo, espero conversar com meu cachorro e rir de suas histórias.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

à meus amigos

São nove e meia da manhã e eu acordo com o barulho de panelas sendo lavadas produzido por minha mulher à cozinha. A noite ontem foi intensa. Aproveitei que minha mulher teve que ir ás pressas visitar uma prima que estava doente e fui arejar os pensamentos em algum bar que vendesse uma cerveja gelada e que fosse reduto de mulheres bonitas e promíscuas. Liguei para um amigo que sabe onde estão as melhores putas da cidade, onde está rolando algum tipo de som e ele também conhece o endereço das drogas mais puras. Não lembro muito do que aconteceu na noite anterior, esse tipo de amnésia causa-me uma certa angústia. Lembro-me de irmos em uma espelunca na qual se apresentava uma banda meio underground formada por uns figurões de meia idade. Chegamos ao lugar aproximadamente ás dez da noite, entretanto, Rogério resolveu me presentear com uma garrafa de vodka alegando que eu a merecia pois meu livro tinha sido mencionado em um jornaleco de uma universidade e, para ele, isso representava o início de minha vida artística e o fim das vacas magras e, de qualquer forma, merecia uma comemoração. Eu, como de costume, adotei uma conduta um pouco menos efusiva com relação a essa entrada no mundo artístico. Bebemos a garrafa antes mesmo de chegar ao bar. Rogério mora em um quarto alugado, não tem muito espaço, apenas uma cama, algumas mudas de roupa espalhadas pelo chão e um toca discos com alguns vinis antigos. Ao som de um bolero, conversamos bastante, pois havia meses que não nos víamos. Ele falou de sua solidão, de alguns projetos de musicas, mostrou-me uma música nova, falou-me, também, de suas dívidas enquanto eu ouvia atenciosamente e esperava a oportunidade para contar sobre as desavenças que estavam acontecendo em meu casamento. Depois desse momento de lucidez, não consigo me lembrar da noite como uma coisa contínua, o que me vêm à cabeça são instantes desconexos entre si, carentes de uma seqüência lógica plausível. O Som parecia bom, as mulheres dançavam e estavam felizes. Algumas eram putas mesmo, outras solteironas de trinta e tantos anos, algumas até intelectuais, da área das artes, jornalistas decadentes, professoras de literatura alcoólatras. Minhas expectativas não se concretizaram por completo. Eu estava tão bêbado que mal podia me comunicar, dancei como um lunático, até ser acometido por um torpor incontrolável e me sentar disforme na primeira cadeira que encontrei... Não foi fácil lembrar do que acabo de relatar; a essa altura, Rose já preparou o café e me chama da cozinha para acordar, ela não suporta me ver dormindo, quando ela acorda faz questão de me acordar logo depois, fator esse responsável por várias de nossas brigas. Enfim resolvo me levantar, ascender um cigarro e tomar um copo de café, afinal de contas marquei com Rogério uma ida à rinha de galo que aconteceria hoje, ao meio dia, com uma premiação alta para o galo que matar mais rápido. Tive que gastar umas meia hora para convencer Rose que me comportaria e voltaria antes do anoitecer, além de trepar com ela por cerca de uma hora para saciar e controlar todo o tesão vulcânico de Rose. Não sei se consegui saciar essa minha cadelinha, mas, de qualquer maneira, bebeu minha porra com um apetite matinal.
Chegamos quase na mesma hora ao local das brigas. Rogério estava animado e eu também, mesmo porque eu ainda não tinha chegado ao estrelato literário e ainda era um fudido e qualquer dinheiro extra me faria deveras bem. Sentei-me, pedi uma cerveja enquanto fazíamos nossas especulações sobre os favoritos, quem iria se enfrentar hoje, coisas do tipo. Pouco a pouco começava a chegar a mesmas pessoas de sempre: Agnaldo, um preto alto, brigão e tratador dos galos de um dos caras mais ricos da cidade. O coronel São Tiago. Este só iria aparecer no momento da sua briga. Chegou um bando de esfarrapados, vendedores de droga para suprir as necessidades dos que freqüentavam essa rinha chamada “Estrela do mar”; alguns viados também iam ao estrela para ganharem trocados e chupar o pau de alguns coroas mais, digamos, modernos..
Tudo caminhava para o começo das brigas, eu e Rogério precisávamos de grana e por isso estávamos concentrados e um pouco nervosos, ambos bebiam cerveja e fumavam cigarro. A primeira briga foi entre o respeitadíssimo Mauro Lacerda, um comerciante bem sucedido no Ramo de rações e outro novato chamado de Luís, um advogado recém formado que não tinha dinheiro no bolso, mas conhecia muitos bandidos e algumas autoridades, sendo relativamente respeitado por isso. Os galos pesavam três quilos e meio cada um, eram grandes, a briga começou e a gritaria aclamava o galo de Mauro Lacerda. Eu e Rogério tomamos uma atitude conservadora e observamos a luta durante uns dois minutos para decidir em quem apostar. O galo de Luís estava melhor na briga e, para nossa sorte, ninguém havia percebido esse fato até então. Mauro tinha diversos seguidores e era admirado por suas vitórias e seus cordões de ouro. O galo de Lacerda batia muito no outro, porém seus golpes não pegavam com a espora, não perfurando o galo do advogado, em contrapartida o ‘pintadinho’, cujo nome Luís me contara depois, proferia menos golpes, mas com uma precisão incrível. Com cinco minutos e meio, o galo do Mauro já estava cego e quase morto. A rinha estava abismada, ninguém acreditou na derrota do galo favorito, eu e Rogério fomos os únicos ganhadores, ganhamos uma bolada legal, cerca duns trezentos e vinte reais cada um. Estava aliviado e satisfeito com essa vitória logo de cara. Convidei Rogério para tomarmos uma e fumar um baseado nos fundos do bar. No caminho, encontro Giullia num vestidinho curto e um andar sedutor. Logo que me viu abriu um largo sorriso e quis me acompanhar para o baseado. Giullia era uma mulata bem servida que já fora presa alguns anos atrás, Mas que estava em liberdade por falta de provas e gostava muito de trepar. Nós somos formados por materiais diferentes, mas quando nos juntamos a combinação é explosiva, nós dois somos compulsivos por viver, então quando transamos tudo flui muito bem e intensamente. Desse modo, sai da rinha em direção ao barraco de Giulia, Ela, como sempre, me provocou até eu não agüentar e comecei, então, a despi-la e masturbar aquele grande bucetão. Já se passava das seis da noite quando me dei conta que estava deitado no leito de Giullia, ela me observava nu enquanto eu dava uma cochilada. Acordei meio tonto e olhei aquela negra pelada pela casa, aquela visão era maravilhosa, pensei estar em um sonho bom, eu era o rei de uma terra qualquer e ela era a rainha daquela porra toda e me fazia gozar com a ponta de uma faca roçando por meu corpo. Eram seis e meia e eu precisava ir embora. Meu livro ainda era um fracasso, meu diploma de literatura me rendia algumas aulas particulares, mas o rendimento não era dos melhores; o governo continuava o mesmo, os escândalos pertinentes em todos os âmbitos possíveis beiravam a comédia. Na rua todos querem comer o cu um do outro, ninguém mais tinha bom senso e a apatia contaminava cada semblante nos pontos de ônibus. O mundo e minha vida estavam um caos, mas eu estava feliz, profundamente feliz.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Summer´s love story, parte três( She want´s to talk)

diz-me que sou uma puta
amo a noite, que sou amarga e depravada
mas nunca poderás me entender
sou um mistério até para mim mesma
tenho uma sede inesgotável
minha juventude é tirana
quer conhecer o mundo
provar do mel e da porra
não poderia ancorar-me em seus braços
nesses braços pragmáticos
de intelectualzinho-fudido
seu pinto por vezes me fez gozar
mas agora isso tudo é irrelevante
posso te dedicar uma siririca
quem sabe, um dia...
afinal, para mim, você terá
sempre o cheiro do sexo.

Summer´s love story, parte dois

Ludmilla estava perdida
era bela como o crepúsculo
mas só amava a noite
Ludmilla tinha quem a amasse
mas rejeitava o amor oferecido
ludmilla tinha caprichos
dúvidas e uma voz suave
ludmilla tinha brilho nos olhos
e era feliz
Ludmilla era cruel e delicada
não sei, absolutamente, o que se passava
na cabeça de ludmilla
Ludmilla, quando mordida,
adocicava a língua
para depois amargar lentamente
a boca depravada
ludmila quando queria
se entregava por inteiro
Ludmila, quando trepava,
suava a testa dum jeito só dela
Ludmilla era só quereres
Ludmilla provou dos homens
e das mulheres
gostou dos dois
Ludmilla era jovem
Ludmilla nunca conheceu o amor...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Summer´s love story

em meus braços foste a puta mais insana
de todos cabarés
na moldura de minha cama
berraste com o fazem as cadelas
cheia de lascívia e devaneios
não existe e nem existirá
um adorador mais fiel
de teu sexo desabrochado
seu líquido mais delicado e misterioso
fiz questão de sorvê-lo
como de posse de um narcótico
como um viciado à busca da última gota
em dias de lua cheia e de calor insuportável
imploravas para que pudesses sentir
o beijo de meu chicote
eu sempre fazia tuas vontades
teus desejos imprevisíveis
teu tesão incontrolável
que ora me desejava, ora me odiava..
ora me queria por perto, outrora um par de peitos
e assim se deu nosso amor
um amor do jeito que tem que ser
forte.intenso.dolorido.bruto.
(e curto).

quarta-feira, 18 de março de 2009

Prazer e dor: ensaios sobre substâncias, parte 2

L.S.D- o que dizer sobre ele senão de cores que explodem e se misturam no ar formando desenhos e semblantes de pessoas mortas a décadas e de algumas que ainda estão por nascer?Alguém é capaz de duvidar que um entardecer, visto pela lente do l.s.d, é sem duvida o crepúsculo mais aterrorizante e belo e imponente e alegre e deslumbrante e colorido e embriagador e sem sentido e com todo o sentido que possa haver em todas as milhas e centímetros dessa terra selvagem e vasta? A razão não pode compreender o l.s.d, as palavras não podem limitar seu mundo ilimitado e indefinido. Nem qualquer tentativa abstrato-sinestésica-pseudo-psicológica pode chegar à milésima parte de um possível entendimento. Poderia me arriscar e dizer que as cores no mundo lisérgico dançam com cheiros e texturas, como cabelos desgrenhados que, ao vento, formam figuras geométricas. E só. talvez seja a molécula responsável por nos ensinar os segredos do mundo e logo nos faz esquecer desse saber. l.s.d é esquecer do supérfulo e se concentrar na essência. É uma breve loucura que termina em riso. Que sempre termina em riso. Como a vida...

terça-feira, 17 de março de 2009

prazer e dor: ensaios sobre substâncias, parte 1

cocaína, tabaco e conversa fora

princesa alva da américa central
planta sagrada para os índios que morreram na cruz
na boca do mais antigo pajé
sendo mascada e dissolvendo amargamente
pôde revelar os segredos mais íntimos do futuro
os delírios mais belos e poéticos

em sua forma cristalizada
assimila-se com flocos de neve de uma terra distante
de um lugar bem mais pro norte
onde o sol se mostra tímido quase sempre
é como se fosse torrões de açucar
de uma realidade celestial.

a cocaína, em resumo,
é como uma amante bela e geniosa
sua beleza, seu modo sexy, sua irreverência
não são menores que sua arrogância
que sua prepotência de quem tem sempre
todos aos seus pés
ela é uma garota bela e malvada
sei que quando me seduz
prova sempre ser irresistível
e eu- insaciável.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

a arte da punheta de pau mole

se no final de nosso amor
a angústia foi imensa
o rancor envenenou um tolo coração
sendo irreversível qualquer situação
se minha boca não deslisa mais sobre seu corpo
e a cada toque meu em seu peito, em sua coxa
um arrepio logo surgia
mesmo que nossas mãos não se encontrem
mesmo que nosso olhar não fale mais nada
apesar do gozo embriagador de outrora
não passar de mera lembrança
quando me lembro de você
o que vem à cabeça são seus risos
nossos risos pueris e imbecis
lembro-me do verde de sua alma
do azul de sua voz
dos seus pés descalços de menina-filha-do-vento
lembro-me de um amor tão profundo e diabólico
que se recusa a virar apenas uma amizade.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

morre aos noventa e tantos anos o velho walter. estarei feliz ou triste? talvez os sentimentos se misturem. é impossível não refletir sobre a vida. acabou para ele. nunca mais verá o por-do-sol, nunca mais comerá um torrão de açucar. penso sobre a efemeridade da vida, sobre a fragilidade do corpo de todos nós. morreu e agora volta lentamente ao seio da mãe terra.. cada pêlo de seu corpo, cada veia, tudo isso vai ser alimento para novas vidas. até o dia em que seus ossos sumirem e o cemitério onde foi enterrado desaparecer junto com a cidade dentro da qual existia. morreu e parece o fim da linha. nenhuma palavra será pronunciada de sua sábia boca. a única coisa que resta é a memória, enquanto existir a memória.

domingo, 18 de janeiro de 2009

de que adianta chorar
se é verão e somos jovens
por que do pranto se
em meu colo repousa o violão
e em meus braços suas cordas
choram melodias tristíssimas
como posso chorar se olho o mar
e ele vai e volta
e que nada existe além do movimento
como posso deixar de sorrir
só porque o amor por ora foi falso
e de que vale o amor
perto da brisa a beira mar
e de que vale o amor perto dessa lua
que fito sozinho tomando uns tragos de rum