quinta-feira, 29 de abril de 2010

apontamentos sobre o delírio, incompletos

1- Apontamentos loucos que faço. De acordo com a norma geral de conduta dos escritores, me privei completamente. Há meses não risco uma linha. Fui fazer outras coisas. Larguei os livros, o estudo, o intelectual sedentarismo. O artista, em geral, necessita esquecer-se, mudar de rumo, nesse aspecto, principalmente o escritor deve fazê-lo. Por isso, justifico minha ausência. Fui para a rua, para as bebidas. Duas garrafas de vinho por noite durante três meses. Isso que eu chamo de renovação. Agora estou pronto para fazer o que é preciso fazer. Mal comecei um parágrafo e parece que o texto todo já faz parte de meus pensamentos, o livro todo. Um romance. Com poucos personagens. Talvez dois, seria ideal. Mas um terceiro será inevitável.

2- Muitas idéias consomem meus dias. Me perturbam a noite. Fazem-me sair de casa sozinho em busca de ar. Vento. A década tem sido uma das mais quentes deste e do século passado. O verão não foi fácil, embora já tenha, teoricamente, passado. Ainda continua um forno. Foi justamente durante esses dias de calor excessivo que pude iniciar a feitura de alguns apontamentos sobre um possível novo livro. Ou então seja uma breve estória. Ou então nem isso.

3- Escrever e beber. Nada pode ser mais prazeroso. Nenhuma vida mais digna. Nós, escritores, precisamos de paz. Ócio. De fúria, depressão. É preciso estar na lama para escrever algo relevante. Ou, então, que esteja tudo ao contrário disto. Digamos, estabilidade. Nessa perspectiva, a escrita é promissora. Casamento indo como manda o figurino. Notas boas enquanto estudante, emprego decente. Nada de espetacular, mas algo que te garanta alguns trocados como aposentadoria. É ai que se vê que nossa situação, enquanto ente existente-consciente, é muito mais dramática do que gostaríamos de acreditar. Não há saída. Nem salvação. A sociedade tenta nos ensinar como ser feliz. Através de pré-concepções infiltradas em nosso inconsciente, somos obrigados a acreditar que a humanidade tem um sentido. Que nós estamos indo para algum lugar, afinal. Tudo para mascarar a enorme irrelevância da vida. Para ocultar o que, de fato, somos: imersos numa onda de incongruências.

4- Se é que isso pode ser considerado uma introdução, como se eu tivesse, da mesma forma, vontade e habilidade para que esse relato siga uma seqüência cronológica ou mesmo verossímil. Pode começar a ler da última página. Ou feche os olhos e sinta o cheiro das folhas.

5- Demos, pois, prosseguimento ao relato. Devido à um lápis quebrado, continuo, agora, com uma caneta. Então é isso. É preciso viver. Temos que trabalhar. A sociedade nos impõe uma função. Uns escrevem, outros vendem coisas. E o pior é que nós mesmos nos impomos essas tarefas. Ninguém está satisfeito com a mediocridade. Todos querem algo a mais. Algo que nos diferencie da grande massa. Pode ser um talento artístico ou um olho azul. Falo com deboche dessas concepções, mas até eu gostaria de ser alguém. Penso, como todos: “já que nasci mesmo, com um nome e um corpo e fui lançado nesse palco onde só se encenam dramas para os deuses ficarem rindo e bebendo absinto, que me fizessem ao menos uma espécie de semi deus, alguém com um jeito diferente de dizer as coisas. Um escritor deprimido. Talvez seja isso.”

6- Amor-cão do inferno. Essa frase dita por Buk me marcou bastante. Não há sossego, como diria o velho filólogo. O amor quer sempre mais. A sede do mar. Teria sido Schopenhauer? Pode ser... a imagem do pêndulo é uma das mais simples e fascinantes da filosofia. “ os seres humanos estão fadados a, como um pêndulo, transitarem entre a necessidade e o tédio”. Nada é garantido. O amor não pode ser como querem nos ensinar. Não faz sentido o casamento, a fidelidade, a proibição do incesto, a luta contra a pedofilia. São barreiras que tentam construir para que o verdadeiro homem não venha à tona. A razão é uma falácia. Os estóicos, junto com os padres, devem ser queimados. O verdadeiro homem é carnívoro. O verdadeiro homem é guerreiro. Ainda, em sonhos, temos saudade do gosto sangue em nossas bocas. O que é o amor? Dizem que é serenidade, cumplicidade, deixar o outro em liberdade. Para mim, amor é uma paixão que virou preguiça.

7- Nos dias de hoje nada mais justo do que sermos saudáveis. Nem que, para isso, nos tornem deprimidos, loucos ou assassinos. Viver de acordo com a ciência. Comer mil e trezentas calorias, largar o cigarro, tomar um cálice de vinho pela noite. O individuo que inventou esse padrão de vida só pode ser um neurótico. Que se foda o coração. Bom mesmo é perder-se, liberdade. O resto é bobagem. A idéia do consumo me causa agonia. Pequenos objetos. Não precisamos de nada disso. É preciso que haja algum combate. Talvez um terremoto me deixaria mais calmo. Por isso bebo, todas as noites. Com a lua e as putas.

8- Por isso, não há como combater o crack. Quem não sabe seja ele o responsável por uma tomada abrupta de consciência. Fuma-se crack hoje por tédio. Não por falta de informação como querem os homens da t.v. tédio. O mais profundo tédio. Viver não faz sentido. Melhor é encomendar a própria morte com um cachimbo na boca. O rock and roll morreu. A música, de uma maneira geral, caduca. Por isso tenho medo do que está por vir. Tudo está em crise. Crise de identidade, financeira, conjugal, ambiental. Ufa. Mas o petróleo ainda é o combustível. Graças ao deus texano. Será que estamos no apogeu?

9- Uma intuição muito forte me diz o que é o amor. Parece que uma voz nitidamente sopra-me ao ouvidos um dos segredos mais antigos da humanidade. Mas calma. Não irei revelá-lo assim tão fácil. Perderia o emprego e seria queimado em praça pública. Me parece que o amor é multiforme. Com incremento de vários outros afetos, entre eles a loucura, a raiva, a inveja, a dor, o causar a dor. Amor tem que ser tensão. Corda estendida entre a morte e a miséria. Senão vira construção intelectual fadada ao fracasso. Werther, se fosse correspondido, veria que a boceta de sua amada não cheirava lá tão bem. Amor é metafísica. É vontade de eternidade. É essência. Assim como todas as religiões, deve morrer.

10- Nada me tira da cabeça que a senhorita Laura quer meter comigo. Esse pensamento me deixa feliz. Afinal de contas, essa cabrita tem um pedaço de carne que não pode ser desperdiçado. Laura é uma bela boceta. Negra. Não. Quase negra. Com seus pelos fartos, deve ser um furação na cama. Penso sobre isso e fico apreensivo. A vontade que me dá é de pegar o telefone e falar tudo o que gostaria de lhe dizer. Foder com ela durante a noite toda. Entre vinho e maconha. Apesar de ela ser muito delicada ao falar e usar roupas delicadas, não me engana. Senhor Claudio Rodriguez. Sou um pervertido. Não sou muito de me exibir, mas não resisto à posição de voyeur. Há uma semana falei com minha amiga Lourena para poder vê-la fazendo sexo com outra amiga minha. Larissa. Ela(s) aceitou. Eu prometi que me comportaria. Mesmo Lourena tendo namorado, quando bebe vodka, gosta é de perereca. Ela é o macho. Um lindo macho, haja vista.