segunda-feira, 27 de abril de 2009

angústias do artista número dois

Não resta dúvida de que perdi a esperança na humanidade. As pessoas são patéticas, superficiais, egoístas e maldosas. Eu também sou assim, talvez eu seja o mais cruel, egoísta, patético e desinteressante entre os seres humanos. Deus morreu e quem cuidará de nós? Quem ou o que dará sentido à vida? Seria necessário que tivesse sentido? A vida é extravagante e intensa e ás vezes tenho medo. Me apequeno pois tenho medo, penso no futuro e tenho dúvidas sobre o que fazer. Vivi experiências que deixaram marcas boas e ruins, espero esquecer das coisas desagradáveis em que me envolvi. A realidade se me apresenta caótica, meus sentidos parecem que esqueceram de organizar e padronizar as percepções. Vejo duas pessoas passarem na rua e não consigo afirmar que são dois seres humanos dotados de racionalidade de tal e tal gênero e com tais e quais características, mas não, para mim, são como dois universos absolutamente diferentes entre si. Deus morreu e até me sinto aliviado com isso. Nesse momento estou em frente à um computador e escrevo insânias, escuto Beatles e bebo uma vodka ordinária e o mundo inteiro é essa musica, esse destilado e essa solidão. Essa falta de sentido me deixa confuso, receoso e ao mesmo tempo me deixa descarregado de certas obrigações metafísicas, meus ombros, agora, parecem leves e eu flutuo com minha despreocupação. Posso seguir e viver o resto de minha vida buscando sempre o que me dá prazer e nessa busca ter certeza de que com ela cavarei minha própria cova. Não me resta mais saída, é domingo e o domingo tem esse ar depressivo por excelência, o vazio das ruas, o descanso melancólico dos trabalhadores. Estou desesperado e parece que vou explodir, uma sede inesgotável me acomete, uma sede que nenhuma bebida pode saciar, uma vontade irracional de viver e experenciar fatos e coisas e pessoas e lugares, quero nunca mais dormir, nunca mais enfrentar uma fila que seja ou preencher relatórios de reuniões inacabadas. Quero correr pelo campo até o esgotamento, quero conhecer todas as pessoas, abraçar, amar, procurar, ser achado. Parece que tenho um explosivo em meu peito, minha vida só terá sentido se eu conseguir expressar de alguma forma essa minha revolta, esse desencanto, essa dor, essa raiva, essa alegria que me acomete agora e em todos os momentos de minha vida monótona e conturbada, calma e revoltada. Talvez por isso escrevo esse texto, na tentativa absurda de, com ele, me afirmar enquanto sujeito imerso no mundo, dotado de linguagem, razão e desespero. Que fosse uma música; se eu fosse pintor, desenharia o semblante da mulher que eu amo com tintas bem coloridas, com entonações psicodélicas. Não me importa o que as pessoas vão achar, não me preocupo com o pensamento alheio quando escrevo, estou pouco me fudendo para elogios e críticas, apenas faço o que devo fazer, o que preciso fazer, escrever e esperar que, com isso, possa embriagar minha ânsia e vê-la escorrendo como um rio de águas claras. Espero que esse texto me faça sorrir depois de ter chorado antes de escrevê-lo, espero conversar com meu cachorro e rir de suas histórias.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

à meus amigos

São nove e meia da manhã e eu acordo com o barulho de panelas sendo lavadas produzido por minha mulher à cozinha. A noite ontem foi intensa. Aproveitei que minha mulher teve que ir ás pressas visitar uma prima que estava doente e fui arejar os pensamentos em algum bar que vendesse uma cerveja gelada e que fosse reduto de mulheres bonitas e promíscuas. Liguei para um amigo que sabe onde estão as melhores putas da cidade, onde está rolando algum tipo de som e ele também conhece o endereço das drogas mais puras. Não lembro muito do que aconteceu na noite anterior, esse tipo de amnésia causa-me uma certa angústia. Lembro-me de irmos em uma espelunca na qual se apresentava uma banda meio underground formada por uns figurões de meia idade. Chegamos ao lugar aproximadamente ás dez da noite, entretanto, Rogério resolveu me presentear com uma garrafa de vodka alegando que eu a merecia pois meu livro tinha sido mencionado em um jornaleco de uma universidade e, para ele, isso representava o início de minha vida artística e o fim das vacas magras e, de qualquer forma, merecia uma comemoração. Eu, como de costume, adotei uma conduta um pouco menos efusiva com relação a essa entrada no mundo artístico. Bebemos a garrafa antes mesmo de chegar ao bar. Rogério mora em um quarto alugado, não tem muito espaço, apenas uma cama, algumas mudas de roupa espalhadas pelo chão e um toca discos com alguns vinis antigos. Ao som de um bolero, conversamos bastante, pois havia meses que não nos víamos. Ele falou de sua solidão, de alguns projetos de musicas, mostrou-me uma música nova, falou-me, também, de suas dívidas enquanto eu ouvia atenciosamente e esperava a oportunidade para contar sobre as desavenças que estavam acontecendo em meu casamento. Depois desse momento de lucidez, não consigo me lembrar da noite como uma coisa contínua, o que me vêm à cabeça são instantes desconexos entre si, carentes de uma seqüência lógica plausível. O Som parecia bom, as mulheres dançavam e estavam felizes. Algumas eram putas mesmo, outras solteironas de trinta e tantos anos, algumas até intelectuais, da área das artes, jornalistas decadentes, professoras de literatura alcoólatras. Minhas expectativas não se concretizaram por completo. Eu estava tão bêbado que mal podia me comunicar, dancei como um lunático, até ser acometido por um torpor incontrolável e me sentar disforme na primeira cadeira que encontrei... Não foi fácil lembrar do que acabo de relatar; a essa altura, Rose já preparou o café e me chama da cozinha para acordar, ela não suporta me ver dormindo, quando ela acorda faz questão de me acordar logo depois, fator esse responsável por várias de nossas brigas. Enfim resolvo me levantar, ascender um cigarro e tomar um copo de café, afinal de contas marquei com Rogério uma ida à rinha de galo que aconteceria hoje, ao meio dia, com uma premiação alta para o galo que matar mais rápido. Tive que gastar umas meia hora para convencer Rose que me comportaria e voltaria antes do anoitecer, além de trepar com ela por cerca de uma hora para saciar e controlar todo o tesão vulcânico de Rose. Não sei se consegui saciar essa minha cadelinha, mas, de qualquer maneira, bebeu minha porra com um apetite matinal.
Chegamos quase na mesma hora ao local das brigas. Rogério estava animado e eu também, mesmo porque eu ainda não tinha chegado ao estrelato literário e ainda era um fudido e qualquer dinheiro extra me faria deveras bem. Sentei-me, pedi uma cerveja enquanto fazíamos nossas especulações sobre os favoritos, quem iria se enfrentar hoje, coisas do tipo. Pouco a pouco começava a chegar a mesmas pessoas de sempre: Agnaldo, um preto alto, brigão e tratador dos galos de um dos caras mais ricos da cidade. O coronel São Tiago. Este só iria aparecer no momento da sua briga. Chegou um bando de esfarrapados, vendedores de droga para suprir as necessidades dos que freqüentavam essa rinha chamada “Estrela do mar”; alguns viados também iam ao estrela para ganharem trocados e chupar o pau de alguns coroas mais, digamos, modernos..
Tudo caminhava para o começo das brigas, eu e Rogério precisávamos de grana e por isso estávamos concentrados e um pouco nervosos, ambos bebiam cerveja e fumavam cigarro. A primeira briga foi entre o respeitadíssimo Mauro Lacerda, um comerciante bem sucedido no Ramo de rações e outro novato chamado de Luís, um advogado recém formado que não tinha dinheiro no bolso, mas conhecia muitos bandidos e algumas autoridades, sendo relativamente respeitado por isso. Os galos pesavam três quilos e meio cada um, eram grandes, a briga começou e a gritaria aclamava o galo de Mauro Lacerda. Eu e Rogério tomamos uma atitude conservadora e observamos a luta durante uns dois minutos para decidir em quem apostar. O galo de Luís estava melhor na briga e, para nossa sorte, ninguém havia percebido esse fato até então. Mauro tinha diversos seguidores e era admirado por suas vitórias e seus cordões de ouro. O galo de Lacerda batia muito no outro, porém seus golpes não pegavam com a espora, não perfurando o galo do advogado, em contrapartida o ‘pintadinho’, cujo nome Luís me contara depois, proferia menos golpes, mas com uma precisão incrível. Com cinco minutos e meio, o galo do Mauro já estava cego e quase morto. A rinha estava abismada, ninguém acreditou na derrota do galo favorito, eu e Rogério fomos os únicos ganhadores, ganhamos uma bolada legal, cerca duns trezentos e vinte reais cada um. Estava aliviado e satisfeito com essa vitória logo de cara. Convidei Rogério para tomarmos uma e fumar um baseado nos fundos do bar. No caminho, encontro Giullia num vestidinho curto e um andar sedutor. Logo que me viu abriu um largo sorriso e quis me acompanhar para o baseado. Giullia era uma mulata bem servida que já fora presa alguns anos atrás, Mas que estava em liberdade por falta de provas e gostava muito de trepar. Nós somos formados por materiais diferentes, mas quando nos juntamos a combinação é explosiva, nós dois somos compulsivos por viver, então quando transamos tudo flui muito bem e intensamente. Desse modo, sai da rinha em direção ao barraco de Giulia, Ela, como sempre, me provocou até eu não agüentar e comecei, então, a despi-la e masturbar aquele grande bucetão. Já se passava das seis da noite quando me dei conta que estava deitado no leito de Giullia, ela me observava nu enquanto eu dava uma cochilada. Acordei meio tonto e olhei aquela negra pelada pela casa, aquela visão era maravilhosa, pensei estar em um sonho bom, eu era o rei de uma terra qualquer e ela era a rainha daquela porra toda e me fazia gozar com a ponta de uma faca roçando por meu corpo. Eram seis e meia e eu precisava ir embora. Meu livro ainda era um fracasso, meu diploma de literatura me rendia algumas aulas particulares, mas o rendimento não era dos melhores; o governo continuava o mesmo, os escândalos pertinentes em todos os âmbitos possíveis beiravam a comédia. Na rua todos querem comer o cu um do outro, ninguém mais tinha bom senso e a apatia contaminava cada semblante nos pontos de ônibus. O mundo e minha vida estavam um caos, mas eu estava feliz, profundamente feliz.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Summer´s love story, parte três( She want´s to talk)

diz-me que sou uma puta
amo a noite, que sou amarga e depravada
mas nunca poderás me entender
sou um mistério até para mim mesma
tenho uma sede inesgotável
minha juventude é tirana
quer conhecer o mundo
provar do mel e da porra
não poderia ancorar-me em seus braços
nesses braços pragmáticos
de intelectualzinho-fudido
seu pinto por vezes me fez gozar
mas agora isso tudo é irrelevante
posso te dedicar uma siririca
quem sabe, um dia...
afinal, para mim, você terá
sempre o cheiro do sexo.

Summer´s love story, parte dois

Ludmilla estava perdida
era bela como o crepúsculo
mas só amava a noite
Ludmilla tinha quem a amasse
mas rejeitava o amor oferecido
ludmilla tinha caprichos
dúvidas e uma voz suave
ludmilla tinha brilho nos olhos
e era feliz
Ludmilla era cruel e delicada
não sei, absolutamente, o que se passava
na cabeça de ludmilla
Ludmilla, quando mordida,
adocicava a língua
para depois amargar lentamente
a boca depravada
ludmila quando queria
se entregava por inteiro
Ludmila, quando trepava,
suava a testa dum jeito só dela
Ludmilla era só quereres
Ludmilla provou dos homens
e das mulheres
gostou dos dois
Ludmilla era jovem
Ludmilla nunca conheceu o amor...