sábado, 29 de novembro de 2008

é quando a lua, soberana, repousa
sua amarelidão no mar calmo e morno
e o ar, ameno, espalha a maresia lambendo
saias e vestidos

em dias como esse
em que bebo conhaque ordinário em copo descartável
o diabo veste uma roupa branca e resolve
brincar com as crianças...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ser poeta, sobre o poeta e o poetar

e o problema do poeta é não saber
se é de fato um poeta
se é anônimo, seu anonimato o desqualifica
se é aclamado, o povo é o pior juiz
se é imortal, bom, ai já morreu mesmo

ainda tem o problema paradoxal
entre dom divino e liberdade de escolha
eu posso escolher ser poeta?
ou o poeta é escolhido?
a poesia pode ser praticada?
é possível evoluir, poeticamente?
não sei...

pra mim o poeta é aquele que faz
mas desconfia da própria feitura
por precaução,
digo-me um incendiário, baderneiro qualquer
e não poeta.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

escrever, escrever, escrever
já está provado que escrever é melhor que viver
os bons momentos sempre passam
a espectativa nunca é correspondida
a felicidade é um sorrir
que logo voa ao vento
o amor-talvez a âncora do homem
tanto tem de dolorido
quando correspondido
tanto tem de nostálgico
o amor- como é melancólico
"mera troca de saliva"
diante disto,
melhor é subir uma montanha
olhar o pôr-do-sol
e fazer um castelo de versos!

sobre a inspiração

se diz poeta
mas quando senta
olha o branco papel
e nada escreve
um mortal silêncio
o acomanha

não há musa por quem chorar
viver ou não se tornou um detalhe
virou niilista
precisa o homem se tornar imortal?
a aclamação pública é legítima, desejável?
se ele não é feliz
porque então não é triste?
nada parece plausível
escrever é inútil
na melhor hipótese
um exercício capaz de nos fazer
esquecer de nós mesmos
um breve instante impessoal
dez minutos de calmaria
em meio ao furacão.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

angústias do artista

E a arte nada mais é do que a necessidade fisiológica do artista. Música, poesia, pintura, a arte é a paranóia da humanidade. O artista delira, deliria livremente. Procura por todas as partes. Pode não ser especialmente feliz com a existência, mas tem algo a dizer e disso não abre mão. O artista admira sobretudo os mortos, daí vem a solidão e a madrugada fria e silênciosa. O dia, pode-se ver, emana poesia, o fluxo dos ventos lambe a vegetação, pássaros cantam, carros buzinam. Porém, é a noite que oferece a lua como uma mulher despida e, na forma de luz amarelada, espalha essa essência dramatica nos ares da cidade. O verdadeiro artista anda anônimo entre bares, senta, pede uma bebida forte e puxa conversa com quem aparecer. Está meio confuso, não consegue ter certeza de seu potencial, tem um segredo guardado: acabara de escrever uma obra-prima, ninguém percebeu sua mudança, apenas ele mesmo. Vomitou palavras, inventou uma estória, lembrou de outras, modificou outras tantas, mas agora parece que respira aliviado. Depois de ter escrito tudo aquilo provavelmente será perdoado, pelo menos por um instante. Ele não olha para o mundo ao redor, parece que sobrevoa.
você diz que não me ama
mas quando comungamos nossos corpos
num abraço morno e eterno
a vontade que bate é nunca mais
deixar de nos abraçar
você diz que não me ama
mas quando num bar bebemos
perto nos sentamos
e sua cabeça desliza para mim
e me acaricia com o rosto
você diz que não me ama
mas levemente me chupa
e baixo sussurra
você diz que não me ama
mas me olha nos olhos
e sempre procura alguma coisa
você diz que não me ama
mas ficamos em silêncio
e nos entendemos nesse não falar.
você diz que não me ama...
você diz que não me ama...