sexta-feira, 28 de agosto de 2009

meu impaciente amor jorra em torrentes

Em meio ao doce e envolvente vapor da canabis. Com a mente explosiva de pensamentos diversos. Com o coração pulsante, a revolta que trinca os dentes. E quão prazeroso é a guerra, o conflito, a morte a destruição. O suicídio, o incesto, o estupro, a aniquilação são, em última medida, os assuntos mais interessantes. A vida não cabe em um parágrafo. Um encontro, duas almas que se entendem, essas coisas não podem ser expressas facilmente. Que Dionísio me abençoe e que possa trazer às minhas breves linhas uma dose que seja de sua luz transfiguradora. Que tire o peso da individuação e me tranqüilize com a leveza do uno. A sabedoria do uno. O gozo. O êxtase. O perder-se. Ao vinho! Ao vinho! Bebamos logo essa garrafa preenchida pelas lágrimas púrpuras de satanás. O veneno mais suave e sensual.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

sobre a vida, noites e luares

felicidade é segredo
e a questão é que nunca foram
desvelados os segredos
essa é a ferida, a célula corrompida
não há caminho a seguir
nem condutores confiáveis
não há deus. não há deuses.
a ponte é cruzada pela noite
o percurso é feito sozinho
quando se chegar, enfim
(se é que se chega)
ninguém estará a esperar
não haverá festas ou funerais
se chega e ponto.
se é que se chega.

sobre o amor, seu perfume e outras drogas.

o que te inspira?
quais são as cores?
em sua hora mais solitária
quando apenas melodias doces te acompanham
sem máscaras, sem aplausos e sem vaias
a vida quando é filtrada e o que resta é ela mesma
conte-me, meu amigo
o que te alimenta?
qual é a bebida para sua sede?
qual é sua sede?
quanto custa sua sanidade?
quero saber de tudo
não olhe para trás
precisava te contar.

sábado, 15 de agosto de 2009

apartamento 201, bloco A, vista para os fundos

dei-me um trago de morfina
para recordar de tantos mundos
nunca vistos
enquanto o beijo áspero da agulha
penetra minha carne trêmula
espero enterrar velhas esperanças
amar as mais alvas prostitutas
nesse momento, quase nada posso fazer
estou caído no chão
o cinto que uso como torniquete
deixa escapar um fio de sangue
estou só e incapaz
se hoje for meu dia
nem forças terei para chegar ao telefone
agora lembranças doces
povoam minha embriaguez
um cheiro de dama-da-noite
inunda meu apartamento
meu fétido e decadente apartamento
no auge de minha insensatez
penso em um grande amor que tive
não tinha hora melhor para lembrar disso?
todo mundo teve um grande amor.