terça-feira, 26 de outubro de 2010

outro trecho do capítulo 21

"... É preciso gritar. Negar. Mandar ao cú todos esses padrões que nos são empurrados goela abaixo. Senão, fica-se louco. Estou quase nisso. Estamos todos na corda bamba. Me parece que por muito pouco posso surtar de uma hora para outra. Basta um motivo e esse motivo pode ser nada. Um gesto errado. Uma palavra dita ou um ato falho. A loucura me causa medo, não por suas conseqüências, mas por sua proximidade..."

trecho do capítulo 21 do livro inédito, inacabado..

"...foi a mais espetacular, mais inteira, mais saborosa que algum dia já provei. Ela era pura rebeldia, ela não sabia para aonde ir. Ela era louca. De uma forma saudável, porém louca. Talvez o errado foi eu em não entender seu espírito livre e descompromissado. Eu fiz tudo errado, em resumo. Fiquei tão chocado com sua beleza que tive pressa e isso, é bom que se deixe claro, era uma coisa estrangeira à ela. Tudo nela era espontaneidade. Eu é que fui pragmático em demasia. Queria controle, queria respostas, enquanto ela, com sorrisos de escárnio, só queria gozar de palavras não ditas. Nunca me disse alguma coisa sobre o amor. E nisso ela acertou. Seu pensamento era como música..."

capítulo 34 do livro inédito, inacabado, impublicável "apontamentos sobre o delírio"

- Nosso encontro derradeiro, explosivo, enigmático, eterno, só aconteceria um tempo depois desse beijo. Eu ainda me achava com poder de decisão. Cheguei procurar em outros corpos o amor que só ela sabia me dar. Tentei fugir e esquecê-la, até que um dia ela me manda um pequeno recado totalmente fora de contexto: “quero uma noite no mato com vinho e maconha. O tédio que precederia agente afoga na cama”.

domingo, 17 de outubro de 2010

st nicolau, lágrimas de despedida

estou triste como uma garrafa vazia
se algum dia o amor transbordou
(de minha taça)
hoje ele é tímido e vacilante
por ter manchado de roxo
um suéter branco.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

filosofia de gaveta 2 *

O homem manso: um relato.

Desenvolvimento: Diante de estudos e também especulações de teóricos importantes a respeito do assunto, é possível afirmar que durante grande parte da história humana a natureza teve um papel relevante em sua cultura. Nesse período, pode-se notar, os eventos naturais causavam um misto de admiração, respeito e principalmente medo. Templos e outros registros podem ser encontrados em adoração ao sol e à lua, e as tempestades e as cheias. Mas, de acordo com o analisado, não obstante nossa falta de material, algo aconteceu e mudou radicalmente a compressão humana sobre o que nós decidimos chamar de natureza. O respeito e a reverência mudaram de tom. O homem, quando resolveu dessecar a natureza e estudá-la minuciosamente, perdeu suas referências mais íntimas; num movimento rebelde quis se tornar dono daquilo de onde provinha. Os paradoxos não pararam por ai. Para nosso estudo fazer um completo sentido, deveríamos esclarecer os pormenores dessa mudança. Algumas perguntas ainda ficam no ar e serão respondidas ao longo dessa dissertação, se possível.

Todas as evidências nos levam a crer que a espécie humana obteve êxito devido a sua coragem. Alguns argumentam que a inteligência seria parte de processo importante nessa ascensão, inclusive estudos muito sérios de anatomia comparativa indicam que a raça humana tinha uma massa encefálica sensivelmente maior capaz de auxiliá-los em empreendimentos intelectuais. Nós não descartamos essa hipótese, apesar de ainda acharmos que a coragem não pode ser deixada de lado, visto que a musculatura humana estudada não é robusta. A maioria dos exemplares é mal desenvolvida ou com excesso de tecido adiposo.

No decorrer dos séculos, talvez entre os séculos da LUZ E DA GLÓRIA e, possivelmente, TRIUNFAL XVI, ocorreu um contrato tácito ou explícito(não se sabe ao certo) para uma maciça domesticação de todos os exemplares. Em vez da caça e da violência, outros valores passaram a serem mais bem vistos, como por exemplo, a benevolência entre os membros e o conforto geral de seus exemplares. Houve uma produção grande de alimentos cuja abrangência era significativa. A vida livre, dançante e violenta foi substituída por aglomerados parecidos com caixotes que eram comandados de acordo com uma conduta de norma específica. O homem conquistava sua emancipação. Não havia problemas com a escassez de alimento e sempre se encontrava protegido de eventuais forças da natureza ou mesmo de animais. Só que essa domesticação não fez bem ao homem. A falta do perigo tornou a vida cinza. A depressão foi diagnosticada como um irrefutável desânimo. Quase ninguém saia mais de casa. O governo ordenou que grades super resistentes fossem instaladas em todos os prédios para tentar conter a onda de suicídio corrente.

Esse foi um breve resumo parte integrante de uma monografia da universidade de plutão xvii para elucidar o problema do fim da raça humana.