quinta-feira, 3 de setembro de 2009

carta ao filho.

Fim de tarde. Morar perto do mar tem suas melancolias. A maresia doce melando nossa pele. Não tenho do que reclamar, a lembrança de tempos juvenis me emociona. Chego a escorrer uma lágrima ingrata. Depois de velho. Velhice chega com revelações, pouco a pouco o mistério é desvelado. Você é jovem. Sonha tanta coisa. Acha que precisa viver um grande amor. Viajar. Conhecer. Pura bobagem. Toda terra é igual. Todas as línguas são a mesma. Deus não tem significado em nenhuma delas. Para que pensar, escrever poesia? Tudo é tão inútil. Melhor é ouvir um piano. Uma voz de um cara cego que canta como se soubesse de algo a mais. Você conhecerá pessoas extraordinárias, não tenha duvidas. Caso não fique trancafiado em seu mundinho, achando que não há nada pelo que lutar. Ainda há chance, nem tudo está perdido. Leve seu sonho para onde fores. Não tenha medo. Todo sonho é ridículo, mas ele é seu. E é único. Vão te criticar. Mas não deixe a preguiça te abater. Levante. Rápido. Agora. Não há muito tempo. Você é jovem, mas não é para sempre. Seja feliz. Divirta-se, mas cuidado: sempre haverá alguém para condenar sua felicidade. Pois todos temos que ser tristes, como burros de cargas, como cães malditos. Fique longe de todas as igrejas, meu filho, vá para as montanhas, lá você poderá aprender mais sobre você mesmo, sobre a natureza e o canto dos pássaros. Seja original. Seja sincero. Caso se apaixone, diga sempre ao ouvido ou aos berros. Não deixe um amor morrer no esquecimento do não falar. Diga sempre, custe o que custar

5 comentários:

Léo Fardim disse...

"Todo sonho é ridículo, mas ele é seu. E é único." afinal, de que viveria o homem se nao de sonhos, pessoas sem sonhos são como livros em branco, na verdade, prefiro os livros de conteudo branco, com eles sonho...

Unknown disse...

mas tá inspirado esse menino.
muito bom, Daniel!
arrisco a dizer que é o meu preferido.

Anônimo disse...

esse ficou realmente bom, não só por ser bom, mas também por eu ter me identificado bastante.

David José disse...

Seu texto me pegou desprevinido e me derrubou. Derrubou no bom sentido ... no melhor dos sentidos, afinal, quedas são quedas ... e sei que me entendes.
Bela prosa ...
=)

Flávio Borgneth disse...

Amargura e esperança na mesma cesta. Porra. O pior é que cabe. Alias, concordo que seja por aí. A gente deva brincar com tudo de outra maneira mesmo. Não se decepcionar tanto com os sonhos só porque elas são sonhos. Porra, se a vida e ordinária eu uso camisinha!