segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sartre e a Liberdade

Viver com a certeza de que deus não existe não é tão fácil como parece. E pior quando pensa-se que mesmo se ele de fato existisse nada disso mudaria a vida humana, livre por sua natureza e condenado a essa liberdade. A caminhada requer uma certa coragem. Entender o homem como desprovido de uma essência, principalmente uma essência boa que anseie por caridade e boas ações. O amor enquanto monogâmico não tem sentido algum, é preciso uma força extra para não acreditar em uma estória convencional de uma paixão de meio século entre pessoas que se amaram durante toda a vida sem nem algum tipo de conflito com o próprio fato de estarem juntas, mesmo porque não existe nada concreto no mundo que obrigue quem que seja a conviver com um alguém específico. Depois da queda do conceito de deus e do próprio ser humano , as esperanças em um amanha feliz se reduzem à pó. A felicidade como é apreendida deve sumir. A felicidade é entendida como conformismo e lassidão. Como conceber uma felicidade sem dor, desespero, tristeza, espera, ansiedade, agitação, sem tédio, por fim???
Diante tais dificuldades em ser um espírito livre, tento me apoiar na idéia de que a morte é um assunto metafísico e só será tratada quando estiver morto. E que, principalmente, quando puder sentir em meu intestino uma célula cancerosa se multiplicando, e sentir de forma pavorosa meu próprio corpo me consumindo e destilando veneno em minhas veias. Quando estiver distraído pensando em uma conta ou em um amor qualquer e no meio de uma viagem de ônibus um acidente acontecer e minhas entranhas serem perfuradas pela lataria. Quando eu puder sentir o cheiro e o calor de meu próprio sangue, Quando, por fim, ver a morte e as coisas do outro mundo, tenho certeza de que, nesse momento, as luzes irão se apagar lentamente. Um silencio irá permanecer por longo período. Pouco a pouco uma letargia calma se apoderará de mim e serei transportado para um cama aquecida por cobertores. Ao fundo, o que antes era silêncio se transformará em uma suave melodia, ainda não decidi se Mozart ou Jimi Hendrix. Só então morrerei sorrindo junto com os vermes psicodélicos.

Um comentário:

David José disse...
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