quinta-feira, 30 de setembro de 2010

filosofia de gaveta*

De acordo com a proposta do espaço, incitaremos uma discussão a partir de uma idéia de interesse de algum filósofo, mas sem o rigor da academia. Por isso, filosofia de gaveta, filosofia esquecida, filosofia alcoólica. Aqui não é o espaço para grandes estudos nem tampouco comparações e análises sistemáticas sobre a verdade e a salvação humana. Já de antemão nos privamos dessa responsabilidade mesmo porque pensamos que o melhor lugar para a instrução é o banheiro, e só tem tempo de ficar inteligente quem sofre do intestino. Muito melhor que escrever ou ler é se distrair ou beber, entre outras coisas. A leitura, confesso, acontece por uma necessidade quase fisiológica de se criar mundos, assim como no processo da escrita. Nós precisamos da narrativa para que não fiquemos todos loucos e suicidas. A literatura, de Dostoiévski aos evangelhos, nos convence de que o mundo tem um sentido determinado. Que a relação causa-efeito não é uma mera abstração de uma mente doentia. Desse modo, o mundo se torna tão crível quanto um romance escrito há quinhentos anos. É assustador como um livro escrito por alguém tão distante tenha mais sentido do que nossa própria vida no instante atual. Quando se trata da vida, ela crua como tem que ser, não cabe num romance, nem palavras podem defini-la. Acordo deprimido com gosto de guarda chuva na boca. Com cabelo amassado me dirijo à geladeira. Pego um resto de coca cola sem gás e bebo com vontade; nesse meio tempo um passarinho meio esverdeado aparece em meu apartamento e come algumas migalhas no chão e vai embora. Se fosse num filme, esse pássaro com certeza retornaria e justificaria sua aparição por algum motivo, mas na vida não. Ele simplesmente aparece come e vai embora.

Essa idéia, como se pode ver, não chega a ser completamente minha. Na verdade, não é de outra pessoa específica. Se existe referências nesse espaço é em relação à vida, a vida é o importante e não a teoria. Kant teve imensa importância para o desenvolvimento da filosofia moderna. Entretanto, seu ponto mais interessante é que ele era metódico, quase nunca saiu de sua cidade e ainda há rumores de que morreu virgem. Será que se fosse desencabaçado escreveria uma quarta crítica?

Schopenhauer é acusado de pessimista. Esse rótulo pode lhe cair bem, mas se alguém adentrar em seus devaneios verá que seu pessimismo nada mais é do que um aguçado senso de humor(negro). E que é quase impossível não concordar com sua teoria sobre a insatisfação e a dor humana. O pêndulo ao qual estamos todos fadados. O pêndulo diz: insatisfação e tédio. Insatisfação e tédio. Não estaria Schopenhauer nos dando carta branca para viver justamente ao afirmar que o mundo é um palco no qual se encena tragédias?

3 comentários:

Daniel. disse...

texto aparentemente imprtesso em algum lugar

Flávio Borgneth disse...

Um dos maiores primeiros parágrafos da história!

David José disse...

Esse texto é maravilhoso, maluco...