domingo, 31 de maio de 2009

furo de reportagem( ainda sem revisão)

Acordo às nove e trinta e oito de uma manhosa manhã de março. O céu está nublado, pelo menos assim me parece quando o percebo através da luz do sol entre a fresta da cortina. A noite foi longa, fui submetido a sonhos apavorantes, intermináveis. Sonhos confusos, delírios que só provam a incapacidade humana, estava imerso em uma realidade sobre a qual pouco ou nada sabia; era perseguido por pessoas e coisas mais fortes do que eu. Todo o meu esforço para escapar desses tormentos se mostrava inútil. Enfim acordo e, aparentemente, as coisas melhoram. Ainda estou deitado e olho para o chão. Três garrafas de cerveja vazias e uma pela metade me fazem pensar na noite anterior. Eu, Claudio Rodriguez, me encontro confuso nesse momento. Tenho dado meu sangue para satisfazer as exigências do jornal onde trabalho, mas não consigo dar conta de todas as tarefas incumbidas à mim. O jornal não é grande, vive da boa vontade de alguns anunciantes e do sangue de gente como eu. Sou responsável pela parte policial, entretanto, na prática, ajudo em alguns eventos culturais, ora e outra comento um filme ou livro e também procuro alguns poetas desconhecidos para serem publicados. Mas a uma semana não vou à redação, inventei uma licença médica que poderá custar meu emprego caso eu não apresente um atestado até o fim da semana. Talvez fosse necessário essa minha saída parcial do trabalho, da sociedade, da vida. Moro sozinho, tirei meu telefone do gancho. Parece que, de modo dramático, minha inspiração foi por água a baixo. Sento em frente ao computador e não consigo escrever uma linha que seja. Bebi demais esses dias, fumei igual desesperado. Penso nas coisas que me aconteceram durante a vida, qualquer coisa, um amor mal resolvido, uma cidade visitada anos atrás. Nada parece me render algum assunto publicável, nem uma crônica ou alguns rabiscos, uma resenha. Tento ler algum livro que possa me desviar de mim mesmo e dos pensamentos relacionados ao trabalho. Não funciona. Avanço poucas páginas e um sentimento de aversão contra tudo o que é novo e alheio me toma por completo. Lembro-me de quando decidi estudar jornalismo, foi uma decisão passional, juvenil, sem sentindo algum, até idealista, eu diria. Queria, através das palavras, impor toda a minha revolta contra o que estivesse errado, o que eu julgava não ser a melhor forma de se agir. O tempo passou e as dúvidas foram mais freqüentes do que as certezas, toda a ilusão de um mundo melhor, a projeção maniqueísta de uma sociedade mais digna, justa, se tronaram, para mim, cada vez mais, inverossímeis. Uma vez com a boca no trombone, o que falar então? Saberia eu dizer de que o mundo ou as pessoas precisavam?bastava falar da prostituição infantil? Do tráfico de drogas? Estaria eu sendo original dessa forma? Nesse aspecto, estaria sendo efetivo e pragmático e eficiente? Para mim agora o jornalismo teria que ser tudo menos pragmatismo e manual de instruções para um mundo melhor, se eu pudesse escolher, se eu pudesse decidir como iria executar meu trabalho, optaria por algo ameno, faria uma matéria que não falasse de um fato cotidiano, de um escândalo ou de um assassinato ou de um suicídio. Meu sonho era falar sobre “o” fato, falar de um instante e conseguir, não através das palavras, mas de outro modo, fotografar um instante iluminado. Poético. E que isso fosse jornalismo, e que as pessoas falassem sobre isso nas ruas. Dia desses ouvi dizer que um tiro vale mais do que mil palavras e quase me convenci disso. Quase. Pois, como bom(?) jornalista, ainda acredito nas palavras.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

conto incompleto

Aproximo-me do balcão da cantina da marlucy. O lugar fica afastado dos bairros nobres e dos grandes edifícios. A maioria das pessoas que vivem aqui são trabalhadores de indústrias, da construção civil, de cargos públicos medíocres, como alguns secretários de gabinetes de assuntos sem importância, ou mesmo trabalham miseravelmente como cobradores de ônibus e garis. As mulheres, quando não são putas, são domésticas. Moro aqui a aproximadamente um ano. Consegui alugar um quarto por um preço razoável e me dedico aos estudos e à arte nesse quartinho fétido e obscuro. Confesso que me sinto um pouco alheio a esse ambiente, entretanto, com o passar dos meses, me acostumei bem. Nesse bairro as pessoas falam alto, gritam umas com as outras pela rua, brigam, xingam, ou seja, vivem da forma mais natural possível. Essa intensidade me agradou bastante, nada daquele silêncio de bairros da classe média, de ruas simétricas e árvores podadas. Até a religiosidade se manifesta de uma forma mais criativa. Apesar da predominância do cristianismo católico e de outra praga que se alastra com insuportável rapidez, as igrejas pentecostais, mesmo assim, o povo ainda guarda uma lembrança dos orixás, dos pais de santos, das oferendas, dos artefatos do candomblé, que, para mim, apesar de ser ateu, considero essa manifestação com influências de tribos africanas como sendo mil vezes mais rica e interessante do que a morbidez do cristianismo sem o elemento do sincretismo. Descrições a parte, instalei-me aqui por necessidade, também, de certa forma. O que importa é que hoje é sexta feira. A rua está movimentadíssima, crianças peladas pelas ruas, cachorro quente, churrasco de gato soltando no ar um aroma espetacular, umas mulatas dançando e rindo e fumando maconha. Tudo na santa paz. Compro uma cerveja, olho o movimento da rua, sinto a brisa que vem do mar carregada de maresia desmanchar os vestidos das mulheres. Tudo parece calmo até a chegada de Odette no bar da Marlu. Odette chega e me vê, hesita em vir ter comigo, cumprimenta umas amigas, fala com a dona do bar e até meche com o papagaio de estimação da mesma. Mas ,depois de cinco minutos no mesmo lugar que eu, não se controla e vem falar comigo. Vem com seu mesmo jeito de sempre. Meio hesitante, olhando para varias direções, mas com uma péssima capacidade de dissimular o próprio tesão, embora muito desejasse isso, talvez.
-odette, como vai?
-tudo bem, Claudio Rodriguez.
-pode me chamar de Claudio, apenas.
-entendo, sem formalismos..
- e então, Claudinho, e a respeito daquela assunto de que tratamos?
- olha, mulher, não vá achando que eu não quero me mudar com você..
-sei...sei..
- é que meus quadros ainda sofrem resistência por parte da prefeitura e órgãos públicos, mas, ainda sim, tenho esperança de que no final do mês eles, esses putos, vão colocar minha exposição em algum lugar.
-você é um burro mesmo, por que não trabalha em alguma coisa mais normal, ou entra pro tráfico então.
-colé mulé! Ta me achando com cara de um garoto que pode arriscar tudo, pra mim isso é muito baixo, eu tenho pretensões que não se limitam a essa vidinha de merda que agente leva. Ainda, algum dia, as pessoas darão valor ao meu trabalho, poderei te levar, ou quem quer que esteja comigo, para conhecer lugares históricos, poderia, talvez, nos tirar desse buraco. Você,tão bela do jeito que é, poderia me dar filhos lindos, com essa sua morenidão, esse vermelho, esse lábio, esse cheiro, um dia você tomará uísque enquanto eu me divirto jogando poker e fumando charuto, nossos filhos correndo pelo quintal, natal, essas coisinhas, essas besteiras, reunião de pais e essas coisas.
- Claudio, se você me diz essas coisas para me comer hoje, acho bom você economizar sua verborréia, pois vou te dar de qualquer jeito, estou com um tesão incontrolável, estou nervosa, ansiosa, doida para ser jogada na cama com violência, ser despida com rapidez e ter um orgasmo demorado com sua língua pervertida. Além do mais, não tente se enganar, aposto que não agüentaria a vida de casado por dois meses, eu te conheço, Claudinho, seu negócio é essa liberdade escrota que você cultiva, e essa solidão da qual não abre mão. Para mim, você morrerá jovem e sem ninguém com quem contar. SEU NEORÓTICO.
-parte do que diz é verdade, tenho que admitir, mas a liberdade, quando amarga, nem sempre é agradável. O que importa é que eu estou num dos momentos mais criativos de minha vida, sinto um impulso imenso por criar as coisas, estou tão feliz com isso que é até difícil te explicar direito. Estou me sentindo potente. Parece que uma força sobre-humana me domina, agora quase não consigo dormir de tanto pensar nas coisas e inventar concepções artísticas para meu trabalho.
-esqueça o uísque e o charuto,honney, lá em casa eu tenho um garrafão de cinco litros de vinho que agente pode beber durante essa noite, enquanto ouvimos uns daqueles seus cd s.
-então é isso. Marlucy, quanto deu aí?