terça-feira, 29 de abril de 2008

eu prometo, eu juro, eu imploro que
esse poema seja o último que escrevo para você
que esse simples poema reflita a dor e o alívio
do último suspiro.
o último bater de asa de um corvo
um fechar a porta e nunca mais voltar
um aperto de mão, um beijo, uma abraço
um fim sombrio e solitário
uma dor que já não dói
uma saudade que não aperta
um amor que não chora
enfim, que seja leve e terrível
como o crepúsculo
que cheire à mato fresco
nossa despedida
à chuva que banha um campo seco.
Na impossibilidade de te ter
fico cada vez com menos opções de ação
sua imagem como um fantasma de alguém que já morreu
a me perseguir, como uma monalisa satânica e melancólica
não posso mais dizer nada
me escondo atrás desses versos
só agora descubro o que tenho em comum
com a população carcerária e dos manicômios
você representa para mim uma boa lembrança
e nada mais..
Ando escrevendo muito e lendo pouco
um mar de coisas aconteceram nos últimos tempos
e de pensar que fatalmente vou te esquecer
sou tomado por calafrios
vou te esquecer porque todos sempre esquecem
daqui a vinte anos pode ser que de súbito
você me venha à cabeça

me entreguei de corpo e alma à boemia
abuso de estimulantes e tranquilizantes
vejo-me num profundo dilema:
cortar os pulsos ou cometer um assasinato
nossa estória foi o verdadeiro "não ser".
Seus peitos pequenos
desejo suga-los
depois de os ter cheirado
roçar minha barba em você
esquecer as delicadezas e te jogar no chão
subir em você, dominar
com minhas mãos vou te ensinar a masturbação
sugar seu caldo mais íntimo
beijar delicadamente...seu cú.
Seu nome ainda ecoa nos meus sonhos
medos, delírios, acordar toda a noite
suor, calafrios
como és bela, minha pequena
seus lábios carnudos irradiavam sorrisos
sua inocência é que me matava
os traços de seu rosto
dizem que você é jovem, nunca sofreu
você é tão pura como vodka tri-destilada
branca, cristalina, suave e entorpecente
o que eu posso fazer?
o que eu posso fazer?
sendo eu um decaden´t
senil apesar de jovem
apesar de já ter visto a morte
ter já matado e morrido
tantas vezes..
talvez eu não tenha nada para te acrescentar.
flor de maracujá
pingo de minha sagrada morfina
na falta de seus braços
passo meus dias num eterno mormaço
sem você vivo em um ostracismo
fumar...beber...e cheirar cocaína.

já disse que te amo
te mostrei boas músicas
tentei te explicar as coisas do mundo
sonhei em te ter como minha companheira de viagens..

agora não sei mais o que dizer
embora tudo parecesse favorável
à nossa vida e felicidade
o mundo nunca é fácil

viver é sofrer
amar é sofrer
morrer é enfim sorrir ...

terceira parte- poema elementar

passe um tempo na cadeia
pegue dinheiro emprestado
monte um bar e beba ele todo
os dias de chuva são lindos
mulheres alcoolatras têm seu charme
seja solteiro. case apenas aos noventa
com uma adolescente que queira te dar o golpe do baú
piche o muro do planalto central
se necessário exploda um ônibus
compre um treno, corte o cabelo, raspe a barba
em um domingo normal vá à igreja universal
e deixe lá uma maleta de explosivos e ponha tudo para o ar
sente na frente para não deixar os pastores impunes
organize um plano, pague o preço.

poema elementar-parte 2

banhe-se no mar nu
fôda em público
se masturbe em sala de aula
invada o banheiro feminino e coma alguém lá
não olhe para o relógio
olhe nos olhos
aperte mãos e peitos
falte a alguma coisa
esqueça de alguém
sacrifique um cordeiro, ou uma virgem
esquecer é arte
mudar é rotina
seja viciado em alguma coisa
tenha manias, morra de alzheimer

POEMA ELEMENTAR- parte um

A solidão traz à tona questões delicadas
um amigo que morreu a pouco
uma tentativa frustradada de suícidio

Ama a noite
vê que as prostitutas são santas
ser nômade, fugir, pensar em
mudar radicalmente

tem no vinho sua alegria
na maconha sua paz
no lsd sua loucura

recitar poesia não é tão bom..
escrever que é verdadeiro

ouça um bom blues
apaixone-se
se perca, se permita
nem seja tão exigente consigo
a vida passa mansa
e a ansiedade é um erro.
parece que a angústia juvenil pode passar
um sereno morno e confortante repousa sobre meu ser
agora é preciso traçar um plano, ser fiel á nós mesmos
ouvir o outro, mas saber sempre o que queremos
aquela paixão avassaladora e doentia passou
o que existe é uma serenidade e um contentamento
com ofuturo e a morte
é preciso ter calma e força e sede
sonhar o mais alto possível
amanhã saberei para que vim ao mundo
posso ter escolhido, ou não...
o importante é sempre seguir sem medo.

L.S.D

uma gota
uma microgota
o mistério é inodor
invisível, molecular
tremendo, exagerado
mostra-me o belo
torna-me anterior
abstrato
causal
uma notícia evidente
enfim, existir, ser
pastar como uma vaca
ou ladrar feito um cão vadio.

as portas

enquanto ouço the doors
danço com a melhor parte da viagem, com a viagem
imagino que é noite
eu em um carro atravesso uma reta interminável
ao meu lado minha garota, minha vaidade
estamos meio tontos por causa do uísque quente

é uma grande fuga essa nossa jornada maluca
parando em postos de gasolina
dormindo em moteis que muitas vezes
pertencem à zumbis
acordar no meio da noite
tiros. uns sete. parece execução

nos olhamos profundamente
não foi ainda nossa vez
mas tenho certeza de que
morreremos juntos
nosso sangue se confundirá
numa só poça
e esse amor pulsa
morre e renasce a cada foda
por todas as madrugadas que passamos juntos
combinamos feito a navalha e a carne ...

juventude 2

vontade de vida no peito
uma pressa inconsciente
como sou feliz..
como brinco com a vida e a morte...

juventude 1

tudo se resume à paixão
ser jovem..
jogar pela janela todas as oportunidades
errar, errar
ser jovem é ser eterno
apostar todas as fichas

velhice

e de repente me olho ao espelho
o tempo curou todas as angústias
tive amores aos milhares
garrafas de uísque, maços de cigarro
marcas de batom...
apresentações, aperto de mãos
tirar a roupa com pressa
meter e esquecer de tudo o mais...
queria ser alguém
dizem que até fui
tive alguns livros publicados
mas agora os dias são tão cinzas
quanto meu cabelo
minha terceira esposa morreu a um mês
meus filhos parecem felizes
meus netos me odeiam
mas eu insisto em viver
em alguns instantes até penso em morrer
a morte seria o prêmio
diante de tantas filas enfrentadas
brigas, casamentos, separações
mudanças radicais, vitórias..
sinto que hoje enfim vou morrer
e de repente não terei tempo de fumar mais um cigarro...
meu amor, minha doce desesperança
você é como o pó que corrói meu nariz
você é a cirrose de minnha existência
meu amor é grande, meu pensamento limitado
não quero me casar com você
preciso de tempo, preciso de espaço
fazer poesia requer solidão
só um telefonema em uma madrugada
- qualquer-
bastaria, bastaria...
diga-me, por favor, que eu tenho algum valor
que meu rock and roll é pirado e cool
confesse entre soluços
que só minhas mãos são capazes
de te fazer gozar...